ENCONTROS, DESENCONTROS, REFLEXÕES....

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"And they actually believed it all!"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Veríssimo: Querer igualar os dois lados na ditadura é invocar simetria que não existe

De O Globo. Na reação ao relatório da Comissão da Verdade sobre as vítimas da ditadura, afirma-se que, para ser justo, ele deveria ter incluído o outro lado, o das vítimas da ação armada contra a ditadura. Invoca-se uma simetria que não existe. Nenhum dos mortos de um lado está em sepultura ignorada como tantos mortos do outro lado. Os meios de repressão de um lado eram tão mais fortes do que os meios de resistência do outro que o resultado só poderia ser uma chacina como a que houve no Araguaia, uma estranha batalha que — ao contrário da batalha de Itararé — houve, mas não deixou vestígio ou registro, nem prisioneiros. A contabilidade tétrica que se quer fazer agora — meus mortos contra os teus mortos — é um insulto a todas as vítimas daquele triste período, de ambos os lados. Mas a principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado, justificados ou não, foram de uma sublevação contra o regime, e os crimes do outro lado foram do regime. Foram crimes do Estado brasileiro. Agentes públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios públicos pagos por nós. E, enquanto a aberração que levou a tortura e outros excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita. Não aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda a nação para os porões da tortura é desonesto. O senador John McCain é um republicano “moderado”, o que, hoje, significa dizer que ainda não sucumbiu à direita maluca do seu partido. Foi o único republicano do Congresso americano a defender a publicação do relatório sobre a tortura praticada pela CIA, que saiu quase ao mesmo tempo do relatório da nossa Comissão da Verdade. McCain, que foi prisioneiro torturado no Vietnã, disse simplesmente que uma nação precisa saber o que é feito em seu nome. O relatório da Comissão da Verdade, como o relatório sobre os métodos até então secretos da CIA, é um informe à nação sobre o que foi feito em seu nome. Há quem aplauda o que foi feito. Há até quem quer que volte a ser feito. São pessoas que não se comovem com os mortos, nem de um lado nem do outro. Paciência. Enquanto perdurar o silêncio dos militares, perdura a aberração. E você eu não sei, mas eu não quero mais ser cúmplice.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Jair, Já tem que ir, Já deveria ter ido, Já Vai Tarde, Bonsonaro.

Na semana passada pensei ter presenciado o que poderia ser um lampejo de inteligência em nível cortical do tal Deputado Jair Bolsonaro. Sim usando-a para o mal, mas usando algum resquício de inteligência, algo que não reputava ao parlamentar fluminense. Extremamente truculento e reacionário, jamais o tinha visto como um ser inteligente, quiçá estrategista. Mas quando do momento de seu ataque à deputada Maria do Rosário, pensei que suas palavras tinham soado a mim milimetricamente calculadas, talvez no intuito de não se enquadrar por falta de decoro e no crime de apologia à cultura do estupro. Dando a entender que tal ato de violência sexual fosse de alguma forma um elogio à mulher. Mas depois de sua entrevista ao jornal Zero Hora, manteve a lamentável postura. E piorou: "Ela não merece porque é muito ruim", disse. "Porque ela é muito feia. Não faz o meu gênero". "Eu sou a vítima. Ela é a agressora", inverteu. E foi além no ataque aos direitos femininos. "Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade. Bonito pra c..., pra c...! [sic] Quem vai pagar a conta? O empregador. Quando ela voltar, vai ter mais um mês de férias, ou seja, ela trabalhou cinco meses em um ano". Aí meteu o pé na jaca de vez. Comprometeu-se até o pescoço. O lampejo de inteligência foi pelo ralo. Somente comparado ao raciocínio de um idiota, deixou-se levar pela inconsequência, abrindo de vez as portas para sua cassação. Quatro partidos políticos entraram com representação pedindo ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar a cassação do deputado: PT, PCdoB, PSOL e PSB. Se o pedido fosse feito por parlamentares, seria necessária a autorização da Mesa. Mas como foram os partidos que fizeram a solicitação, o assunto vai direto para o Conselho. Para os partidos signatários da representação, Bolsonaro demonstra “total desrespeito por sua condição de representante de todos os cidadãos e cidadãs brasileiras e, em especial, do povo do Rio de Janeiro” e costuma proferir “comentários misóginos, jocosos e estereotipados a respeito das mulheres, negros e homossexuais”. Segundo o texto da representação, Bolsonaro “tem sido extremamente misógino, preconceituoso, sexista e homofóbico, no exercício do seu mandato parlamentar” e, com isso, “desrespeita a Constituição Federal, o Código de Ética e Decoro Parlamentar e o Regimento Interno da Câmara dos Deputados, incorrendo, sem prejuízo da eventual responsabilização pela prática de crime, em Quebra de Decoro Parlamentar”. Sim. Lamentável a postura de Senhor que se julga apto a representar alguém em um parlamento Nacional Republicano. É inadmissível, a permanência desse cidadão no Congresso Nacional. Ou em qualquer lugar público onde estejam circulando pessoas que se enquadrem como objetos de suas representações de ódio. Trata-se de um perigo para a sociedade. Algo realmente precisa ser feito. Ele sim deve sofrer as penas por suas declarações e talvez até restritivas de liberdade, já que não demonstra qualquer equilíbrio para conviver com seus semelhantes, podendo estar à beira de um surto, e venha a cometer alguma atrocidade de proporções mais graves. Se nada for feito, seus pares assinarão embaixo o conteúdo de suas declarações e expressando as mesmas opiniões que esse ser abjeto e asqueroso esbraveja aos quatro ventos.